A procura de respostas passa por melhor entender o que de fundamental aconteceu, o que já sabemos, mas principalmente o que não sabemos.
A crise imobiliária americana continua seguindo seu curso e tem consequências ainda bastante relevantes a atingirem os mercados. A classe média americana utilizou a valorização dos imóveis como veículo de financiamento de consumo nos últimos anos, sustentando o crescimento econômico e gerando disponibilidade (income) para gastos. Esta "bicicleta" funcionou enquanto a valorização dos imóveis foi crescente, o que permitia múltiplos refinanciamentos a medida que os preços subiam e por consequência mais dinheiro para gastar. Com a queda vertiginosa de preços (que continuarão ainda caindo) não só esta dinâmica parou, mas se reverteu. O consumidor não consegue mais refinanciar os imóveis para gastar, mas também tem que arranjar dinheiro extra para pagar os financiamentos e cobrir a desvalorização dos imóveis. Muitos deles não tem estes recursos, daí não pagam nem a prestação do refinanciamento. Consumo adicional, nem pensar.
A queda do consumo é o que vai se observar daqui para frente nos EUA e como consequência o aumento do desemprego. O desemprego é a segunda onda a atingir e aprofundar a redução do consumo. É um ciclo de recessão e está no horizonte. A questão é o quão forte vai ser esta recessão.
O FED já tem uma idéia do estrago que vem por aí. O corte de 1/2 ponto nos Fed Funds foi um alívio e acima da expectativa do mercado, mas traz também uma outra mensagem: se segurem pois a recessão pode vir forte. Tecnicamente o FED tinha três opções de ação: corte de 0,25 %, corte de 0,5% ou corte de 0,75%. A minha opinião é que a opção era de fato entre 0,5% ou 0,75% e que um corte de 0,75% sinalizaria um ato de desespero. Na própria sexta feira já havia indicações de que na próxima reunião do FED em outubro uma nova redução de 0,25% é necessária.
Alguns indicadores econômicos já mostram deterioração da atividade econômica como a produção industrial, vendas no varejo e índices de confiança econômica em geral. O corte de preços do iphone da apple em US$ 200 ! (de $500 para $300) deve ser visto como uma ação antecipada de previsão de queda de demanda.
Outra questão não respondida é quais são os prejuízos dos bancos ? Estimativas indicam que os BCs americanos e europeus já injetaram mais de US$ 3 trilhões. É claro que boa parte deste valor são injeções de liquidez, mas como virão os balanços futuros ? Quem paga a conta ?
Vamos observar os acontecimentos destas próximas semanas. Continuarei neste assunto em um próximo post.
Jackson Tong
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