Ao redor do mundo, as
erupções de protestos são cada vez mais comuns. Iniciam com uma queixa ou
incidentes sem maior importância. No Chile, os estudantes protestaram contra o
alto custo da educação. Na Turquia o povo manifestou-se contra a intenção do
governo de demolir um parque em Istambul. Em 2011, um vendedor de frutas na
Tunísia, irritado pelo constante relaxamento das autoridades, se imolou com
fogo e assim acendeu a chama de uma revolução que derrubou o ditador Abidine
Ben Ali e iniciou as revoltas populares em todo o Oriente Médio. As
demonstrações nas cidades chinesas protestavam contra as autoridades locais
abusivas, corrupção ou água e comida contaminadas.
Como os governos reagiram
aos protestos espontâneos, coletivos e caóticos? É interessante comparar as
reações dos líderes do Brasil e da Turquia. Dilma Roussef deixou de denunciar e
castigar os manifestantes e insistiu para que as reivindicações sejam atendidas
e as mudanças feitas. Ela prometeu gastar bilhões na melhora do transporte
público, lutar contra a corrupção oficial e propor um plebiscito nacional de
reforma política. Em contrataste, o primeiro ministro da Turquia, Recep Tayyip
Erdogan insultou, ameaçou e atacou os manifestantes e denunciou que eles, banqueiros
e poderes estrangeiros conspiraram contra seu governo islâmico.
Como ninguém consegue
antecipar o começo dos protestos, é igualmente impossível adivinhar como e
quando eles vão terminar. Em alguns países os protestos têm pouco impacto
duradouro; em outros, eles produzem pequenas reformas cosméticas. Em outros
lugares, particularmente no mundo árabe, os protestos derrubaram governos. Mas Brasil,
Turquia e Chile não são Tunísia ou Egito. Os governos eleitos democraticamente
são bem mais fortes e os líderes bem mais populares e seguros do que os
ditadores da África do Norte. Chile é um exemplo de um país pobre que conseguiu
vencer um passado turbulento e tornar-se um modelo de progresso econômico,
desenvolvimento e democracia. Turquia, além de ser um milagre econômico, é admirada
como ideal de um país onde leste e oeste, modernidade e tradição, Islão e
democracia, podem coexistir pacificamente.
Então porque os cidadãos do
Chile, Turquia e Brasil protestam nas ruas, em vez de celebrar o progresso óbvio
dos seus respectivos países? A resposta está no livro escrito por Samuel
Huntington, cientista político de Harvard - Political order in changing societe
- publicado em 1968. A tese dele é que nas sociedades confrontando mudanças
rápidas, a procura por serviços públicos cresce mais rapidamente do que a
capacidade do governo de satisfazê-la. As instituições governamentais não
conseguem acompanhar as aspirações das populações de um futuro melhor, já que
eles agora conhecem liberdade e prosperidade, tendo mais informações via as
mídias sociais. Nas palavras de Huntington; “o problema primário é a defasagem
de desenvolvimento das instituições políticas atrás da mudança social
econômica”. Essa defasagem traz o povo para as ruas e amplifica os protestos
contra o alto custo de educação no Chile, a demolição do Parque Taskim Gezi em
Istambul, e aumento de 9 centavos na tarifa de ônibus no Brasil. A defasagem
identificada por Huntington é a fonte do tumulto popular e instabilidade
política. Ela acorda os cidadãos apáticos e força-os a participar, os políticos
a escutar e os governos a mudar. Em alguns casos a defasagem impulsiona a
sociedade para frente.
As situações de Turquia e
Brasil fornecem lições importantes para muitos governos que enfrentam a
população que reclamam mais ações de seus líderes. A lição confirma que o
diálogo, a inclusão e as respostas sinceras dos governos são melhores do que
demagogia e repressão. Nenhum governo seria capaz de satisfazer plenamente
todas as expectativas do seu povo. Mas os governos precisam escutar as vozes do
povo e oferecer medidas concretas em resposta. Isso significa a construção de
uma democracia que vai além de eleições livres e justas.
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