terça-feira, 30 de setembro de 2008

Crise e Oportunidade

Existe um ditado chinês que diz “crise é oportunidade”. Quando há crise, há oportunidade.
A nossa bolsa de valores já caiu 29% do pico em maio/2008 até hoje, 05/09/08. Está na hora de comprar?

Os meus critérios:
A) taxa de juro – quando existe a perspectiva de que a taxa Selic vai parar de subir ou vai cair em função de melhoria do índice de inflação
B) preço do petróleo – já caiu de US$ 150 por barril para US$ 108. Estou especulando que o preço vai atingir US$ 90 até o fim do ano
C) cotação de Petrobrás – eu compraria Petrobrás quando o petróleo cair para perto de US$ 90 (a cotação de Petrobrás vem seguindo o preço do petróleo para cima ou para baixo). Como Petrobrás é a ação líder do mercado, a eventual alta do papel impulsiona toda a bolsa
D) pessimismo – quando ninguém quer saber (ou falar) da bolsa, está na hora de comprar (inversamente, quando todo mundo só fala na bolsa na rua, no elevador, nos encontros sociais, está na hora de vender)
E) eleição americana – se a pesquisa de intenção de votos indica a vitória de Obama, do Partido Democrata, a bolsa americana deveria melhorar. Ele prometeu a retirada (ou a redução) de tropas no Iraque, com o conseqüente corte no déficit. O fortalecimento da bolsa americana tem influência global
F) a bolsa da China – já caiu mais de 50%. O governo está revogando as medidas restritivas sobre investimentos na bolsa (medidas impostas durante a euforia). Quando a bolsa chinesa subiu ou caiu exageradamente, a bolsa brasileira seguiu o mesmo passo, embora com menos volatilidade.
Como sempre, não espere comprar ações no fundo do poço. Após a compra, as ações vão continuar oscilando para cima e para baixo. Segure os papéis por um prazo longo. Se o país tem perspectiva de crescimento sustentável com inflação baixa, a bolsa oferece oportunidade de bom ganho.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os Bônus de Petrobrás e Vale

Diante das turbulências do mercado financeiro mundial das últimas semanas, os investidores estão vendendo bônus de mercados emergentes (Petrobrás,Vale, etc.) para comprar bônus do Tesouro americano que são os mais seguros. Os preços do 10 years treasury notes subiram para 105 e os juros caíram para 3,4%. Ao mesmo tempo, os preços dos bônus de Petrobrás International Finance Co. e o de Vale Overseas Ltd caíram cerca de 10%. “Flight to quality”, na linguagem do mercado.
Ultimamente os investidores estão vendendo ações brasileiras a qualquer preço (panic selling), convertendo os reais em dólares e remetendo para os países de origem. O dólar subiu 5,6% (de 1,78 para1,88) em apenas 3 sessões (15, 16 e 17 de setembro).
As ADRs das ações brasileiras refletem o efeito cumulativo da queda do preço das ações e da moeda ao mesmo tempo.
Este cenário a gente já viu no passado. Antes das eleições presidenciais em 2002, quando o Ibope divulgou pesquisas que indicavam a vitória de Lula por uma larga margem, a bolsa caiu e o preço do bônus brasileiro “República do Brasil” mergulhou para abaixo de 50. O mercado tinha medo de que uma vez eleito presidente, Lula poderia renunciar à dívida brasileira (“República do Brasil poderia virar pó).
Mas nada disso aconteceu. Lula, como presidente, nomeou ministros de centro-esquerda, anunciou medidas econômicas equilibradas e que o governo honraria todas as dívidas, interna e externa. Mais tarde o bônus “República do Brasil” subiu para 115, 15% acima do par.
GMAC (General Motors Acceptance Corporation) lançou um corporate bond com vencimento em 15/03/2016, com juro de 5% ao ano. Nos últimos anos GM perdeu “market share” paraToyota e Honda e a situação financeira vem se deteriorando. Há rumores em Wall Street de que poderia ter dificuldades para honrar os seus compromissos. Além de queda no preço de suas ações, o bond tem oscilado entre 39 a 60% do valor de face. O meu conselho: segurar firme o papel, receber os juros semestrais e 100% do valor de face no seu vencimento. Ter confiança em si e na empresa. GM anunciou parcerias com empresas americanas e canadenses para acelerar o desenvolvimento de veículos elétricos, desafiando a competição e o preço da gasolina. A montadora e o Instituto de Pesquisa de Energia Elétrica (EPRI, em sua sigla em inglês) farão um trabalho conjunto para desenvolver o Chevrolet Volt. O carro elétrico está em fase final de desenvolvimento e deve começar a ser vendido no final de 2010.
Vender ou não vender o bônus de Petrobrás e Vale com deságio? Não se apavore. Ponha os papéis embaixo do colchão e tenha confiança de que nem essas empresas e nem o Brasil irão por água abaixo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Overdraft

Sir Isaac Newton descobriu a gravidade. Os ingleses inventaram o football e o tênis. Adam Smith escreveu “The Wealth of Nations”. Recentemente o governo tomou a iniciativa de vender companhias de eletricidade, de água, e até aeroportos, para a economia privada.
Lá, novidade não falta. Agora vem mais uma.
Um ativista, cidadão britânico, Peter Brown, moveu ação judicial, contra os bancos britânicos, devido à cobrança de “overdraft fees” exageradas e absurdas.
“Overdraft fees” são cobradas pelos bancos quando o cliente faz saques a descoberto. “Overdraft” na média custa US$ 57, 70% a mais do que nos Estados Unidos. No ano passado os bancos ingleses cobraram US$ 7 bilhões em overdraft. Um ótimo negócio, exceto que os clientes estão movendo ações judiciais em massa, alegando que as “overdraft fees” violam a Lei de Proteção ao Consumidor. O que os bancos cobram excede exageradamente o custo – aproximadamente US$ 9.
Em janeiro de 2008, a justiça britânica começou a deliberar sobre o caso para decidir se os fees são justos. Mesmo antes do pronunciamento judicial, os 5 bancos já devolveram US$ 810 milhões para os clientes no 1° semestre de 2007. Para Peter Brown, o professor de História da Universidade de Wales, 4 bancos já devolveram US$ 13.000 pelo overdraft e outras penalidades. Ele criou um website (legalbeagles.info) que oferece formulários de self-litígio para o consumidor.
Os bancos americanos estão gritando contra uma legislação que está no Congresso que limitaria os bancos quanto ao uso de programas de overdraft-proteção. Mas se os bancos ingleses continuam lucrativos apesar da limitação ou proibição de overdraft fees, isso esvazia o argumento dos bancos americanos de que eles vão quebrar se não cobrarem esses encargos. Elizabeth Warren, professora e especialista em “Bankruptcy”, da Harvard Law School, disse que “a Inglaterra pode nos dar um exemplo de lucratividade em termos mais justos”. Bancos britânicos, bancos americanos. E os bancos brasileiros? Alguém sabe se eles estão “overcharging” nos “overdrafts”? Quem no Brasil tem a coragem e a perseverança de organizar um luta contra os bancos poderosos?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Fundo Mútuo

Quanto você está pagando às companhias de Fundo Mútuo para administrar a sua conta de investimento? A Business Week, na edição de 4 de fevereiro de 2008, faz um alerta ao público investidor americano. A taxa média – a despesa calculada como porcentagem do ativo – é 1,4% por ano para os “equity funds” americanos. Aparentemente isso não parece muito. Mas considerando que a indústria de Fundo Mútuo já ultrapassa a marca de US$ 3 trilhões, a gente se pergunta por que a taxa cobrada ainda é a mesma após todos esses anos. (se o volume aumenta, a taxa deveria baixar).
E se a taxa cobrada é calculada como porcentagem de retorno (sobre o lucro)? Com a taxa alta e o retorno abaixo da média, Alliance Bernstein Fund, nos últimos 10 anos, acabou cobrando, por ano, quase 21% sobre os rendimentos do investimento. A pesquisa demonstra que o melhor neste aspecto é o Vanguard Group, o fundo de menor custo, que cobrou 2,7% de remuneração sobre o rendimento bruto. Como não investi em Fundo Mútuo, confesso que não sabia da diferença entre a taxa sobre ativo e a taxa sobre rendimento. Alerta para os investidores brasileiros: você sabe o quanto estes fundos mútuos estão lhe cobrando?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

From Russia with Love

No meu artigo sobre “Mexico Fund”, apostei que após o México e o Brasil conseguirem Investment Grade, os próximos certificados devem chegar à Europa Oriental. Portanto, recomendo S&P Emerging Europe SPDR ETF (AMEX: GUR) que investe nos índices de República Tcheca, Hungria, Polônia, Turquia e Rússia.
Um Communiqué (15/06/08) também recomenda Europa Emergente, com suas reformas free market, privatizações, forte sentimento de consumo, crescimento do comércio com a Ásia e renda crescente. O investimento nesta área deve superar o da China e Ásia para os próximos anos.
Recomenda-se U.S. Global Accolade Eastern Europe Fund (EUROX) com uma ampla diversificação setorial e geográfica:

Rússia – 59,41%
Turquia – 13,19%
Cazaquistão – 6,05%
Hungria – 5,01%
Rep. Tcheca – 3,35%
Polônia – 2,70%
Chipre – 1,73%
Na Rússia, o GPD cresceu na média de 7,5% ao ano, por 8 anos consecutivos. As dívidas pesadas do país foram substituídas pelo fundo de estabilização de $ 150 bilhões de dólares. Superávit de comércio atingiu $ 72,5 bilhões de dólares. O benchmark RTS Stock Index subiu 1.922 % desde 2000.
Mesmo assim, as ações ainda são consideradas baratas, com P/L de 9, comparado com P/L de 14 das ações da América Latina, P/L de 15 da Ásia e P/L de 20 dos Estados Unidos.
Anos atrás fiz um cruzeiro de Londres para Copenhagen. Quando o navio chegou a St. Petersburg mandei um fax com 4 palavras para os meus filhos: “From Rússia with Love”. Fiquei encantado com a paisagem, o povo, pobre, mas livre. A visita ao Museu Hermitage foi uma grande alegria. As seis pinturas de Rembrandt nunca foram exibidas em qualquer outro museu do mundo.
A boa impressão de um país estimula um estudo mais profundo sobre sua cultura e economia, até o ponto de pensar em alocar um percentual dos meus recursos para investir naquele país.
A Rússia abriu meus olhos, estou pensando em abrir o bolso.