terça-feira, 27 de setembro de 2011

Desvalorização

A semana passada (19 – 23/09/2011) foi uma das piores na história da Bovespa. O índice caiu 7%, para 53.230, criando um “double bottom” com 52.949 de 5/08/2011.

Para quem tem ADRs de ações brasileiras, o sofrimento não parou por aí. Entre 29/07/2011 e 23/09/2011, o real desvalorizou 15,5% ( R = $0.645 para $ 0.545). ADRs sofrem duplamente: de queda nas cotações multiplicada pela desvalorização cambial.

Para quem contabiliza seu patrimônio em real, tudo bem. Mas para quem contabiliza em dólar, a súbita desvalorização do real atinge tudo: ações, aplicações em renda fixa e variável, imóveis, automóveis e cash embaixo do colchão. De repente os cidadãos brasileiros ficaram 15,5% mais pobres (medidos em dólar).

Quem se beneficia com a maxi-desvalorização? Exportadores em geral. Os plantadores de soja (café, laranja, etc.) aumentam a receita e o lucro pela cotação firme na CBOT e a valorização do dólar. Os exportadores de produtos siderúrgicos (CSN, Usiminas, Gerdau) e minério de ferro (Vale) devem sentir um alívio. E os calçadistas de Novo Hamburgo também.

Normalmente, as autoridades monetárias do mundo desvalorizam suas moedas gradativamente. Não entendo porque desta vez o real se desvalorizou tão repentinamente. Sem dúvida, as importações vão diminuir e os preços dos importados vão aumentar. Quais são os efeitos sobre a inflação? Foram as forças do mercado de determinaram uma desvalorização desse tamanho, ou Tombini/Mantega resolveram desvalorizar violentamente de vez já que o Brasil entrou no jogo da guerra das moedas?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A guerra das moedas (currency war)

Ultimamente os países do mundo desvalorizam as moedas para diminuir importações e aumentar exportações a fim de melhorar o superávit comercial, aumentar os empregos domésticos e estimular a economia do país em geral.

Os países da União Européia – Grécia, Itália, Portugal, Irlanda – não tendo moedas próprias para desvalorizar, tiveram que desvalorizar a moeda comum – o euro.

A Suíça, que tem a moeda mais forte do mundo (neste ano de turbulência, o mercado comprou ouro e franco suíço como os últimos guardiões de valor) não agüentou a pressão de alta, desvalorizou sua moeda 9% em setembro de 2011, de 1 dólar = SF 0,80 para SF 0,88, simplesmente via decreto.

No Brasil, um real valia $ 0,645 em 29 de julho de 2011, desvalorizou gradativamente para $ 0,578 em 16 de setembro (- 10,4%). Ao Ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi atribuída a terminologia “a guerra das moedas” (currency war).

(no período acima citado, as ADRs das ações da Bovespa não acompanharam a alta da Bovespa devido à desvalorização do real).

Os Estados Unidos e a China travam uma guerra de moedas totalmente diferente. O Presidente Obama e o Secretário do Tesouro, Timothy Geithner, a toda hora querem que a China valorize a sua moeda, o renminbi. O renminbi desvalorizado promove exportações chinesas a custo dos americanos (e dos brasileiros), cria desequilíbrio no comércio mundial e desemprego nos Estados Unidos. A China não diz sim nem não. Valoriza um pouquinho, para, no ritmo que a China quer. A atitude resume em “tu cuida da tua moeda, nós cuidamos da nossa”. Só resta uma coisa para os Estados Unidos: já que a China não quer valorizar a sua moeda, vamos, em compensação, desvalorizar a nossa.

E assim a guerra continua!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Greek bonds

No mês passado, em São Paulo jantei com um amigo. A conversa, inevitavelmente, entre outros assuntos, convergiu para investimentos.

Ele era dono de uma fábrica de tecidos que tinha como freguesia as lojas de norte a sul do Brasil, inclusive a Casas Pernambucanas. Após anos de sucesso, o mercado foi invadido por tecidos importados da China. Ele fechou a fábrica e também importava da China (If you can’t beat them, join them!). Após acumular uma boa fortuna, ele se aposentou e hoje se dedica a investimentos.

A minha área é ações. Mas a dele, ultimamente, é “bonds” (debêntures), especificamente “greek bonds”. Ele pesquisa todos os tipos de bonds: U.S. Treasury, brasileiro, europeu, etc., e chegou à conclusão de que os “greek bonds” são os mais rentáveis. Com maturidade de 5 ou 10 anos, cupons de 6% ao ano, e deságio de 15% a 25% do valor de face (conforme dança o mercado), ele só precisa sentar em cima, ou botar embaixo do colchão para usufruir os ganhos pelo resto da vida.

E os riscos de “default”? Claro, ele está ciente do maior risco de “default” associado ao maior rendimento. Mas ele aposta que a União Européia não vai deixar de socorrer a Grécia. Ademais, o país deve cumprir os compromissos de cortar as despesas, aumentar impostos, cortar salários dos funcionários públicos e reduzir o déficit fiscal.

O jantar foi ótimo. Eu aprendi uma lição sobre os “bonds” e “greek bonds”. Em ultima análise, os “bonds” não são muito diferentes das ações: comprar na baixa (como o greek bonds agora), e vender na alta ou segurar até o vencimento. Exceto que, as ações não tem prazo de vencimento. O acionista, como eu, pode vender as ações ou deixá-las para os filhos no dia do meu vencimento.