terça-feira, 30 de junho de 2009

Juro e Câmbio

Um amigo me consultou sobre um investimento que Bradesco Luxembourg oferece: juro de 9% ao ano, em real. Isto é: um ótimo juro mais uma especulação cambial favorecendo o real.


Alternativas:

A) Republico of Brazil (Sovereign Bond) com cupom de 12,5%, vencimento em 2016, preço de $114.05, yield de 9,49% (aplicação mínima de R$ 250.000,00). Com esse tamanho de juro, ninguém vai vender ao preço de 100. O vendedor cobra um ágio, reduzindo o yield efetivo para 9,49% (yield do mercado)
B) Australian Dollar Bonds. Vencimento em 2012. Yield 8%


Em ambos os casos a atração é um juro alto. E a especulação é um dólar baixo.

Concluindo, enquanto os Estados Unidos estão com déficit (como percentagem do GPD) em ascensão, e China, Brasil e países árabes querem utilizar suas próprias moedas para reserva e comércio internacional, é difícil ver o dólar valorizar frente a outras moedas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

China e Brasil (Parte 2)

Em Beijing, o presidente Lula também disse que o Brasil está interessado em encontrar uma maneira de estabelecer relações comerciais com a China em moedas locais, prescindindo do dólar norte americano no comércio bilateral.
A crise financeira já deixa claro que o papel do dólar na economia global não continuará o mesmo. “Os encontro durante a visita de Lula podem possibilitar o início da criação de um novo sistema mundial de liquidações”, avalia Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC).
O pré-requisito deste esquema de auto-estima da moeda do país é uma forte reserva das moedas mundiais (seja dólar, euro, renminbi, real) e a perspectiva de continuar a gerar superávit no comércio internacional. As minhas perguntas:
- se o Brasil possui um bom estoque de renminbi e a China uma boa reserva de real
- se o volume de importação e exportação entre os dois países está aumentando ou é apenas morno diante da recessão global
Se as siderurgias da China pagam RMB para a Cia Vale do Rio Doce pela importação de minério de ferro, a Cia Vale converte RMB em real com os bancos brasileiros (ou Banco Central). Inversamente, o importador brasileiro abre uma carta de crédito ou faz pagamento para o exportador chinês em real.
Para o sistema funcionar bem, a importação e a exportação entre os dois países devem ser equilibradas. Senão vai se criar uma instabilidade da taxa de câmbio (RMB X real).
Alguém tem que começar a fazer o teste para ver como funciona, quais serão os problemas que vão surgir. Gostaria de me dedicar aos estudos deste novo “modus operandi”.

terça-feira, 16 de junho de 2009

China e Brasil (Parte 1)

Em abril de 2009, a China superou os Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil. Durante a visita oficial de Lula a Beijing, foram anunciados os seguintes acordos:

A) A concessão à Petrobrás de crédito de US$ 10 bilhões pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB) para financiar investimentos relativos à prospecção de petróleo em águas profundas
B) CDB também concedeu uma linha de crédito de US$ 800 milhões ao BNDES
C) CDB assinou um acordo com o Banco do Brasil, e acertou um financiamento de US$ 100 milhões com o Banco Itaú BBA
D) Investimentos em atividades exploratórias, em busca de minérios, petróleo e outras commodities
E) Investimentos industriais – não há montadoras de automóveis chinesas no Brasil, mas a Cherry anunciou que construirá uma fábrica no Brasil dentro de três anos. E o Brasil vai vender para a China produtos com cada vez mais valor agregado
F) Produtos de consumo – por exemplo, a calçadista Arezzo vai abrir 230 lojas na China. E a exploração de produtos de higiene e beleza
G) Cooperação em agricultura, recursos naturais e tecnologia - a sofisticada tecnologia brasileira de produção de etanol de cana de açúcar seria muito valiosa na China, por exemplo. Enquanto o Brasil pode aprender com a China em áreas como aeroespacial e tecnologia em aviação.

É pelo consenso de que cresce a importância da China no cenário mundial e na economia brasileira que a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil) aproveita a visita oficial de Lula para inaugurar em Beijing o primeiro Centro de Negócios Brasileiros na Ásia.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O governo compra ações?

Entre as diversas propostas de estimular a economia e sair da recessão, uma é sui generis.
Roger Farmer, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, sugeriu que o FED deveria fazer um compra de ações em grande escala para restaurar a confiança do investidor e colocar a economia de volta aos trilhos.
Ele acha que a compra de ações pelo FED seria mais eficaz do que o “déficit spending” do governo Obama. O dinheiro que o governo coloca no bolso do povo via “déficit spending” e corte de imposto não será gasto uma vez que as pessoas se sentem pobres com o prejuízo das bolsas de valores. O FED deveria acertar uma “meta” que a bolsa de valores deveria atingir até um determinado dia, e comprometer-se-ia a comprar ações (via índex funds) até atingir essa meta. A alta da bolsa faria com que o povo se sinta mais rico e consuma mais, e conseqüentemente criaria prosperidade. Simetricamente, o FED deveria vender ações para segurar os preços em tempos de euforia.
Esse tipo de intervenção federal já foi testado antes em Hong Kong, Taiwan e Japão, produzindo resultados desiguais, mas foi creditado em salvar Hong Kong da crise financeira asiática de 1998. “Há muito interesse de outros economistas. Mas leva um bom tempo para popularizar uma nova idéia”.
Pessoalmente, na minha experiência de investidor e consumidor, compro carro e apartamento com a bolsa em alta e fico quietinho com a bolsa em baixa.
Tenho receio de que esse tipo de intervenção do governo não funcionaria no Brasil. Aqui a percentagem da população com portfólio de ações é muito pequeno. O esforço do governo em elevar os preços das ações para estimular o consumo produziria um efeito muito limitado.

terça-feira, 2 de junho de 2009

“Voucher”

Para combater a recessão global, os governos da Ásia estão distribuindo “vouchers” à população para estimular o consumo. O “voucher” vale como dinheiro, como o nosso “vale refeição”, que o povo pode gastar em compras, em restaurantes.
Hangzhou, Nanjing, Ningbo e outras cidades da China estão dando cupons de até 30 dólares para os cidadãos locais. Tailândia está mandando cheques equivalentes $58 para mais do que 10 milhões de trabalhadores de baixa renda. Japão distribuiu $130 – $200 a cada cidadão totalizando $20 bilhões.
Em Taiwan, o programa de $2,5 bilhões oferece “voucher” de $108 para 23 milhões de residentes da ilha que pode ser gasto como “cash”, porém tem que ser gasto até o final do ano.
Tradicionalmente, os governos da Ásia incentivam o povo a poupar ao invés de consumir. Desta vez os governos fizeram exatamente o contrário. Dançar conforme a música!
Estas medidas não vão mudar o hábito do povo asiático de poupar em vez de consumir. Mas os economistas acham que a generosidade dos governos deve produzir alguns efeitos. Embora as medidas temporárias não criem prosperidade, pelo menos podem retardar a recessão, aguardando a tempestade passar nos Estados Unidos e na Europa.