terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Falta de alimentos, causa e efeito

Nouriel Roubini, da New York University, economista que previu a crise financeira dos Estados Unidos em 2008, disse que os altos custos dos alimentos e da energia estão criando uma inflação tão séria nos mercados emergentes que até derrubou o governo de Mubarak no Egito.

As causas: a oferta global diminui em função do clima. A seca dizima a safra de trigo. Há falta de água para os povos e os animais (água será o próximo petróleo!). A demanda global acelera. A compra de alimentos e matérias primas pela China compromete a disponibilidade. Quando o renminbi valoriza, a China importa ainda mais.

Os efeitos: uma crise leva à outra. Os países da Ásia, Japão inclusive, têm que aumentar os subsídios e cortar as tarifas de importação, criando dívidas indesejáveis. Ademais, a falta de alimentos provoca a instabilidade social. Os povos protestam em massa, e tentar manter a fúria da população encapsulada em época de Twitter, Youtube e Facebook não é uma tarefa fácil para qualquer país. O mundo não previa o efeito dominó – Tunísia, Egito, Bahrein, Iêmen, Jordânia, Líbia e Irã, e a crise geopolítica em andamento se intensifica.

O povo árabe costuma ter medo do regime autoritário, agora o regime autoritário tem medo do seu povo.

Porém, a crise pode evoluir para um cenário otimista e inesperado. A ditadura e a soberania perpétua não vão durar muito tempo. O sol está no horizonte, e a democracia no caminho. Como a Sinfonia n° 6, “A Pastoral”, de Beethoven, “após a tempestade vem a serenidade, e o povo exulta em alegria”.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A alta histórica dos alimentos

Os preços dos alimentos do mundo bateram alta histórica em janeiro de 2011, de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO) das Nações Unidas. O índice de preços dos alimentos da FAO mede o custo de uma cesta básica – cereais, açúcar, leite, óleo e carne – do mundo inteiro. O índice subiu 3,4% em janeiro – o sétimo mês consecutivo - chegando ao nível mais alto desde começou a ser medido em 1990. E os preços altos vão persistir nos meses vindouros.
Os altos custos dos alimentos e das commodities são um dos fatores principais das ondas de protestos no Oriente Médio e África do Norte, onde os povos de baixa renda gastam uma alta proporção da sua renda em alimentos. Os altos preços mundiais dos alimentos causam fome em milhões de pessoas que, nos países em desenvolvimento, gastam até 80% de suas rendas em comida, criando o medo de que eles tenham que sacrificar a educação dos filhos ou até vender terrenos ou casas para ter comida na mesa.
As revoltas e os protestos, primeiro na Tunísia, depois no Egito e agora espalhando para Marrocos, Algéria, e Paquistão não são causadas somente pela alta taxa de desemprego e desigualdade de renda e riqueza, mas também são atribuídas à alta vertiginosa dos preços dos alimentos e commodities.
Um alerta para o nosso Brasil. Além de frear a inflação e aumentar o salário mínimo, o governo de Dilma tem que incentivar a agricultura e prevenir para que não falte comida para os menos privilegiados do país.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Commodity e ações de commodity

Apesar dos sinais de desaceleração nos Estados Unidos, os investidores estão comprando ações de commodity numa aposta contra a recorrência de recessão. Um artigo publicado na Bloomberg Businessweek, em setembro de 2010, dizia que o SP 500, Índice de Materiais, composto de 32 companhias de mineração, semente e química, subiu 10% (de junho a agosto de 2010), comparado com uma alta de 4% do Índice SP 500. O P/L (preço/lucro) dessas 32 companhias atingiu a média de 17,4 contra um P/L médio de 14,2% das companhias do Índice SP 500.
A forte procura pelas matérias primas sinaliza o crescimento da economia em geral. Se o mercado realmente acreditasse na recorrência da recessão (double-dip), as ações de matéria prima não teriam um desempenho tão bom.
Reuters CRB, índice de 19 matérias primas, subiu 3,6% desde o fim de junho de 2010, liderado pelo trigo que subiu 42% com a seca dos países exportadores. O açúcar subiu 21% com o atraso do embarque nos portos do Brasil, o maior exportador do mundo. O cobre e o algodão subiram 12%, de acordo com os dados da Bloomberg.
A força das commodities é um importante indicador, assegurando um forte fundamento da economia mundial, mais do que a previsão do mercado.
Os outros, porém, acham que os preços das commodities e das ações de commodities refletem a procura crescente da parte mais dinâmica da economia mundial, que é a Ásia emergente. O que não necessariamente reflete a perspectiva do crescimento dos Estados Unidos e da Europa.
Uma observação minha: simplesmente, a commodity é o minério de ferro; e a ação de commodity é Vale do Rio Doce. A procura depende da Ásia emergente, principalmente da China. “Quando a China grita, o mundo treme”.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cenário Internacional (III)

AMÉRICA LATINA
Argentina e Brasil, como grandes produtores e exportadores de soja, são favorecidos com a alta de preços, porém são desfavorecidos com a baixa do dólar. O preço da soja é determinado pela cotação diária no Chicago Board of Trade (CBOT), convertido em real pela taxa de câmbio.

O preço sobe (atualmente acima de US$ 14 por bushel) e a taxa de câmbio cai para R$ 1,68. Um compensa o outro, mas os produtores estão ganhando e estão satisfeitos.

Em 19 /01/2011, o Banco Central do Brasil aumentou a taxa Selic em 0,5%, para 11,25% ao ano para frear a inflação, com previsão de 12,25% para o ano. Com este tamanho de juro, o Brasil está convidando a entrada de dólar, convertido em real e aplicado em juro. Porém, a entrada excessiva de dólar traz valorização do real, o que prejudica a exportação. O governo, portanto, criou a taxação de IOF para frear a inundação de dólar.


OPEP
Na semana passada, os países produtores de petróleo (OPEP) anunciaram que com a alta da demanda por petróleo, a OPEP está aumentado a produção para estabilizar o preço internacional. A OPEP não quer se acusada de alimentar a inflação mundial.

A estabilidade ou a queda do preço do petróleo, além de diminuir a inflação mundial, fortalece o valor do dólar (dólar compra mais petróleo). Quem sabe em 2011 e 2012, a alta do dólar ajudará o balanço de pagamento do Brasil (a exportação aumenta e a importação diminui) e o governo poderá rescindir a taxação de IOF; e com as inflações mundial e brasileira mais amenas o Banco Central deverá reduzir o juro real para um nível mais sensato.