terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A volta do keynesianismo

Ultimamente foram publicados dois livros sobre Keynes: Robert Skidelsky: “Keynes, The return of the Master”, e Peter Clark, “Keynes, The Rise, Fall and Return of the 20th Century’s most influential economist.” Sintetizando, ambos acham que com o fracasso do nosso sistema econômico e a recessão mundial beirando a depressão, está na hora do retorno da revolução Keynesiana – a economia pode ser estimulada pelo “déficit spending” do governo.
Esqueça a Bíblia e Das Kapital; pratique o que funciona e o que já funcionou.
Roosevelt via estímulos ao consumo, tirou os Estados Unidos e o mundo da depressão de 1929. Deng Xiao Ping fez a mesma coisa e disse: “Não importa se o gato é branco ou preto. Desde que ele pegue o rato, ele é um bom gato.”
De 2008 até hoje, o mundo reviveu o drama de assistir as medidas de estímulo econômico implantadas pelo governo Obama, junto com o Federal Reserve e os bancos centrais mundiais (com baixas sucessivas de juros). A prática de estímulo através de gastos públicos é quase universal.
Quem tem gasta, quem não tem também gasta (déficit spending). O objetivo é o mesmo: dar emprego e renda ao povo via construção de infra-estrutura, estradas, construção civil. O mecanismo varia com cada país. Os Estados Unidos inventaram o “clunker” – quem troca carro usado por carro novo recebe 5 mil dólares como incentivo. Em diversos países, o governo literalmente coloca dinheiro vivo nas mãos do povo.
E o medo da inflação? Os keynesianos não estão preocupados. “Quando vier, daremos um jeito.”
E o nosso Brasil? Não esqueça que o ano que vem é ano de eleição. O governo do PT dificilmente praticará o aperto fiscal ou monetário. O Presidente Lula sabe disso melhor do que eu. O keynesianismo tem pelo menos mais um ano de vida no Brasil.
Feliz Ano Novo – 2010.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Shanghai e China

Após a visita a Dubai, chegamos a Shanghai, minha cidade natal. Como Dubai, Shanghai continua construindo prédios, shoppings centers, estradas. Só que com uma diferença. Dubai constrói com dinheiro emprestado; Shanghai (e a China) constroem com dinheiro de superávit. A China tem trilhões de reservas para gastar, para tirar o país da recessão, dar empregos ao seu povo e manter o crescimento econômico a uma taxa de 8% ao ano.
Atualmente a China é um país capitalista dirigido pelo Estado, que por sua vez, é dirigido pelo Partido Comunista. Nas conversas com os meus amigos, ninguém falou de capitalismo ou comunismo. O regime perdeu o rótulo. O assunto é progresso econômico. O Estado cria empregos via construção de estradas, prédios e infra-estrutura, incentivos para exportação, e ultimamente, para consumo interno. O nível de vida está cada vez melhor nas cidades (especialmente Shanghai), e o governo está fazendo esforços para interiorizar o progresso.
O povo tem “liberdade” de expressão, pode xingar Karl Marx ou Mao Zedong, desde que não critique abertamente o governo em relação ao Tibet ou, recentemente, sobre Urumqui. O jornal, o rádio e a televisão são controlados pelo governo. Mas com o avanço da internet, o controle é cada vez mais questionável.
A bolsa de valores funciona normalmente, compra e venda investir e especular. As lojas e as lojas de departamento não aceitam cartão de crédito local, mas aceitam cartões de turistas emitidos no exterior. O negócio é pagar cash e negociar descontos.
Na última reunião do G-20, Obama quis a revalorização do renminbi (Yuan), mas o governo chinês está resistindo até onde pode.
Culturalmente, ainda existem muitos hábitos indesejáveis. Não respeitam filas, entram no elevador antes que os outros tenham saído, cospem no chão.
Shanghai e a China, eu visito a cada três ou quatro anos, mas não tenho intenção de morar lá. Meu lugar é em Porto Alegre e no Brasil. Quando o avião aterrissou em Porto Alegre, eu disse: “graças a Deus, estou em casa!”.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A crise de Dubai

Apesar de toda a beleza que descrevi no artigo anterior sobre Dubai, ela agora está enfrentando uma crise por causa de suas dívidas que assusta os bancos da Europa e dos Estados Unidos. Ela tem que pagar ou refinanciar US$ 50 bilhões em quatro anos. As companhias de Dubai têm uma dívida de US$ 90 bilhões, ou 126% do GDP, em debêntures de curto prazo e empréstimos dos grandes bancos do mundo. A habilidade de Dubai em sanear toda essa dívida depende dos bancos estrangeiros, especialmente da generosidade de Abu Dhabi, o emirado vizinho rico em dólar e petróleo.
Mas agora os líderes de Abu Dhabi estão mais exigentes em troca de novos financiamentos. Abu Dhabi pode querer participações nas “crown jewel” companhias, como Emirates Airlines, DP World (operadora dos portos) e Dubai Aluminum. As eventuais participações podem consolidar estas companhias com as de Abu Dhabi, tal como Etihad Airways. Até agora, o Sheikh Mohammed tem evitado qualquer take over de equity em Dubai, frustrando uma venda de 20% da DP World por US$ 2 bilhões para a Abraaj Capital, uma firma de Dubai de private equity, e China Investment Corp., Sovereign wealth fund de Beijing.
Mas uma inadimplência de Dubai vai sacudir a confiança dos investidores em toda a U.A.E (United Arab Emirates), inclusive Abu Dhabi. Os outros emirados não podem deixar isso acontecer.
Mas aconteceu o que o mercado temia.
O conglomerado estatal Dubai World, holding que cuida dos principais investimentos do governo de Dubai, anunciou em 26 de novembro uma moratória de seis meses do pagamento de US$ 59 bilhões de dívidas do grupo. As bolsas européias caíram 3% e a Bovespa caiu 2,25% (as bolsas americanas tiveram feriado de Thanksgiving).
Na bolsa de Londres, o setor bancário, RSB, Lloyds, HSBC, caíram violentamente. As agências de classificação de risco, Moody’s e Standard & Poor’s, baixaram a nota das grandes companhias do governo de Dubai.
O caso Dubai serviu como pretexto para a realização de lucros, na Bovespa, inclusive.