terça-feira, 28 de outubro de 2008

“Stagflation”

Ultimamente o Federal Reserve está perplexo entre combater a inflação (aumentando a taxa de juro) ou evitar a recessão (diminuindo a taxa de juro). Agora, com a queda do preço do petróleo e de outras commodities (metais e alimentos), o FED está disposto a não aumentar o juro, ou até diminuir de 2% para 1,75% ou 1,50%. A queda dos preços do petróleo, metais e alimentos em si cuida do problema da inflação. O FED só precisa cuidar da recessão.
No Brasil, o governo e o Banco Central vêm aumentando, este ano, a taxa Selic para 13% para combater a inflação. Como o INPC de julho e de agosto subiu menos do que a “meta” do Banco Central, acho que está na hora de baixar o juro em vez de aumentar para 14% até o final do ano. É absurdo que o Brasil tenha o maior juro real do mundo. Juro alto diminui o crescimento econômico, aumenta o desemprego e cria recessão. Juro alto impulsiona a moeda Real, incentiva importação e dificulta a exportação. O superávit comercial diminui ou até vira déficit. Estados Unidos, Europa e o mundo querem evitar a recessão. Por que o Brasil quer mergulhar nela?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Souza Cruz

Das ações que compõem a minha carteira, Souza Cruz foi a única que me mandou o relatório de administração pelo correio. O relatório findo em 30 de junho de 2008 é sintetizado, fácil de entender e a leitura levar apenas alguns minutos, em contraste com os balanços publicados na Gazeta Mercantil, de múltiplas páginas que não tenho tempo e nem paciência para ler e analisar.
O balanço semestral destaca os seguintes itens:
O lucro operacional consolidado antes do resultado financeiro foi de R$ 732,1 milhões, 10,4% inferior ao obtido no mesmo período em 2007, devido aos seguintes fatores:
A) Aumento do IPI sobre cigarros em cerca de 30% a partir de julho de 2007, o que implicou em reajustes de preços e retração no volume de vendas de cigarros.
B) Aumento do custo das exportações de fumo, pelos melhores preços pagos aos produtores.
C) Valorização do real em relação ao dólar de cerca de 17% no período, impactando negativamente nas receitas com exportação de fumo.
O resultado financeiro no período foi de R$ 13,9 milhões, com redução de 69,7% em relação ao de 2007 (R$ 45,8 milhões), devido à menor posição de caixa no inicio de 2008, que resultou em receitas inferiores de aplicações financeiras.
O lucro líquido consolidado no semestre de R$ 491,3 milhões foi 15,7% inferior ao obtido no mesmo período de 2007, em conseqüência da redução do lucro operacional e do resultado financeiro.
Os preços médios de fumo exportado em dólar em 2008 foram 15% superiores àqueles praticados em 2007. Entretanto, em 2008 a rentabilidade em reais foi afetada negativamente pela apreciação do real em relação ao dólar de cerca de 17% (como qualquer outra commodity de exportação do Brasil, o preço sobe em dólar que é convertido em menos reais).
Remuneração dos acionistas:
Data de Pagamento Distribuição R$ milhões R$/ação
proposta div. intermediários 437,9 1,432457
4/8/08 juro s/capital 28,6 0,093472
1º trimestre juro s/capital 24,6 0,080538
Total 1º semestre 2008 491,1 1,606467

A distribuição do 1º semestre aos acionistas equivale a 100% do lucro líquido. A companhia não faz “cash reserve” porque cigarros são vendidos em cash, e a exportação de fumo fecha contrato de câmbio obtendo adiantamento em real antes do embarque no navio.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Desconto de pânico

As bolsas do mundo caíram drasticamente na semana de 6 a 10 de outubro. Observei um fenômeno sui generis com o México Fund (MXF), um closed-end fundo mútuo composto das ações mexicanas, negociado na NYSE, em dólar americano.



Data........Preço de fech........ NAV............... Desconto
8/10 ¨¨¨¨¨¨¨¨17.74 ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨19.30 ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨8,08%
9/10 ¨¨¨¨¨¨¨¨15.64(-11,8%) ¨¨20.00 (+3,6%) ¨¨21,80%

Apesar de uma alta de 3,6% no NAV, MXF fechou em 9/10 com uma queda de 11,8%, ampliando o desconto de NAV de 8,08% para 21,80%. Considerando um desconto normal de 12%, o excesso de desconto de 9,8% é o que eu chamo de “desconto de pânico”. No pânico os investidores perderam o raciocínio matemático e venderam a qualquer preço (herd psycology).
O pânico é do momento, não vai durar meses. Quando o pânico dissipar gradualmente, esse desconto de pânico vai desaparecer e MXF deve recuperar 10% (além de eventual alta da bolsa mexicana, quando subirem as bolsas do mundo).
Na mesma semana, a bolsa brasileira (e as bolsas do mundo) sofreu a mesma irracionalidade, incorporando um enorme “desconto de pânico”, que deve evaporar quando o mercado voltar ao normal.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

“Decoupling”

“Decoupling” significa descontaminação ou descolamento.
Ultimamente, quando o mercado americano cai, a bolsa brasileira cai junto. O investidor fica perplexo. O Brasil não tem nada a ver com os Estados Unidos. Não temos hipotecas de alto risco (subprime mortgages), crise bancária, recessão, diminuição de consumo, aumento de desemprego. Ao contrário, o Brasil tem aumento de inflação, e o Banco Central tem aumentado a taxa da Selic de 11,25 % para 13,75 %, de início de março até agora.
Mas o Brasil não consegue “decouplar” (desconectar) dos Estados Unidos.
a) diretamente: quando os Estados Unidos entram em recessão, eles importam menos do Brasil e do mundo.
b) via China: 50% das exportações da China é destinado para os Estados Unidos. Como a China sofre uma queda nas exportações, além do resfriamento do consumo interno, diminui a importação de matéria prima (minério de ferro, produtos siderúrgicos, etc). A queda da demanda afeta pesadamente a economia do Brasil em geral, e a Cia Vale do Rio Doce em particular, levando a CSN, Gerdau e Usiminas junto, de carona.
Além da queda no volume das exportações, o mercado se preocupa também com os preços. Demanda fraca gera queda de preços. A negociação anual do preço de minério de ferro entre a Vale e os importadores chineses, para 2009, não prevê o tamanho de aumentos de anos anteriores. Seria ótimo se conseguir manter o preço ou diminuir um pouquinho. Afinal de contas, o mundo está em recessão, os preços do petróleo e de outras commodities estão caindo, e o dólar está forte.
Diante da globalização, “decoupling” é uma meta difícil para o Brasil atingir a curto prazo.