terça-feira, 29 de julho de 2008

O preço do petróleo

Hoje (15/07/08) o preço do petróleo caiu 4,5%, de US$ 145,50 para US$ 139, a maior queda dos últimos 7 anos *.
Nenhuma commodity sobe eternamente. Lembrem-se da lição da prata, há 20 anos, na época dos especuladores irmãos Hunt. O preço da prata bateu o limite de alta todos os dias, atingindo US$ 50 por onça. De repente (ninguém imaginava) as donas de casa mandaram derreter a “silverware” (bandejas, copos, castiçais). Daí a prata bateu limite de baixa todos os dias. Ninguém pode adivinhar de onde virá o “trigger”, a causa que vai reverter a direção do mercado.
O preço do petróleo de US$ 150 é insustentável.
Os prováveis instigadores de queda:
a) fortalecimento do dólar
Se o governo Bush diminuir o déficit (pouca esperança em 4 meses), ou se o IBOPE da eleição apontar para a vitória de Obama, que promete tirar os Estados Unidos do Iraque, o dólar pode se fortalecer e o preço do petróleo cair.

b) diminuição de consumo de petróleo
Já há lugares nos Estados Unidos em que se trabalha 4 dias por semana, compensado pelo aumento de horários. Andar de bicicleta, viajar de trem, a introdução do carro elétrico já começou, mas a sua popularização vai demorar.

c) aumento da oferta
A Arábia Saudita já está estudando abrir mais a torneira para salvar seu maior parceiro comercial (não conte com o Hugo Chávez!)

d) crise de confiança
Queda do dólar, alta do petróleo, subprime mortgage, quebra de bancos, tudo faz parte da crise de confiança. Mas a crise passa, como sempre.

e) self-fulfilling
A queda de preço do petróleo (como a taxa de juro) leva a mais queda. Queda moderada leva a queda acentuada e drástica.

Ditado chinês:
“A coisa se reverte quando chegar ao extremo.”

* o petróleo fechou ontem, 28 de julho, a US$ 124,73

terça-feira, 22 de julho de 2008

“Hedge”

Com o preço do petróleo atingindo US$ 140 por barril, o JP Morgan Chase estima um prejuízo de 7.2 bilhões de dólares em 2008 para as companhias americanas de aviação. A única exceção é a Southwest Airlines, que é lucrativa devido a contratos de long term fuel. Outra maneira de ser lucrativa é “hedging” de preço de petróleo.
Se o consumidor de petróleo compra contratos futuros de petróleo abaixo de US$ 80 por barril (break-even point para a maioria das companhias aéreas), ele se garante um pequeno lucro. Embora ele deixe de ganhar um lucro maior se o preço descer, ele se protege contra prejuízos se o preço subir. Ele “lock-in” um lucro modesto. Isso se chama “hedge” ou “hedging”.
No meu tempo de Diretor Comercial de indústria de soja, eu fiz “hedging” todos os dias na Chicago Board of Trade. Conforme a soja ia sendo comprada e o preço fixado com os produtores e as cooperativas, meu custo de matéria-prima era conhecido. Para não correr o risco de uma queda de preço do farelo de soja, eu vendia os contratos de farelo no CBOT para “lock-in” um lucro modesto.
O cálculo é simples.

Matéria prima....................Produtos

Soja...................................... óleo (19%) + farelo (80%)

Óleo de soja tem preço controlado ou tabelado pelo governo (não precisa de hedging).

Farelo é exportado para a Europa. O preço de exportação é fixado na entrega ao comprador dos contratos de farelo vendidos. Se eu entregar contratos vendidos a US$ 200 por tonelada, o comprador me pagará US$ 200 por tonelada quando o farelo for embarcado no navio.

O consumidor de petróleo “hedge” a matéria prima; o produtor de farelo “hedge” o produto manufaturado. O princípio é o mesmo: garantir o preço e o lucro.
Há vinte anos trabalhei com soja de US$ 6 o bushel. Hoje o preço da soja já atingiu US$ 15. As cooperativas e produtores de soja (brasileiros e americanos) devem estar bem ativos em “hedging” a safra de 2008, ou até a safra de 2009.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Os cancelamentos de IPOs no Brasil

(Fonte: site da Bloomberg: http://www.bloomberg.com/)

O Brasil, que é o melhor mercado de ações nos últimos anos, tem mais companhias cancelando IPO (Initial Public Offering) do que qualquer outro país (exceto Estados Unidos). 66% das novas ações lançadas no ano passado são perdedoras no mercado.
Norse Energy do Brasil S. A., Banco Fibra, PST Eletrônica, e outras 17 companhias postergaram ou retiraram IPOs em 2008. Até maio deste ano, 3 companhias brasileiras abriram capital captando 780 milhões de reais, comparado com 59 companhias que venderam 53, 2 bilhões de reais em novas ações, em 2007.
As companhias brasileiras que abriram o capital em 2007 venderam ações com P/L de 40,6 (média). Isso comparado com 22,4 da China e 16,9 da Índia, onde as economias crescem duas vezes mais rápido do que o Brasil.
O índice Bovespa subiu 6 vezes desde o final de 2002 devido ao aumento da procura mundial pelos produtos agrícolas, minérios e aços, petróleo, à queda de juro, e ultimamente à concessão de “investment grade” pela S&P. Num mercado em ascensão, muitos IPOs são “overpriced”, disse Mark Mobius, da Templeton Asset Management. “Isso não é só verdade no Brasil, é também verdade nos outros mercados”.
Os IPOs de bancos, construtoras, imobiliárias e produtos de consumo, lançados em 2007, todos perderam para o índice Bovespa após o Banco Central aumentar o juro em abril (primeira vez em 3 anos) para frear a inflação.

P/L no lançamento Preço em 22/05/2008
(abaixo do IPO)

Iguatemi 42 - 18%
BM&F - - 8%
Açúcar Guarani 52,7 - 26%

Norse Energy do Brasil S.A. cancelou IPO de 23 milhões de ações ao preço de R$ 18 por ação, equivalente a 383 vezes o lucro por ação anunciado em 2006. “Não estamos em urgente necessidade da verba. A gente pode esperar”, disse o CFO da empresa.
Banco Fibra retirou IPO após o colapso do mercado de subprime mortgage que baixou violentamente as ações do setor financeiro no mundo inteiro. CFO do banco disse que talvez o banco procure uma venda privada de ações.
Importação, Exportação e Indústria de Óleos S.A., um produtor de óleo de soja, postergou IPO em março. CFO da empresa da família disse que investidores cautelosos aconselharam a esperar até o mercado melhorar. A empresa está vendendo “Bond” para financiar as operações e pretende lançar ações no momento oportuno.
Nos meus artigos anteriores, sempre critiquei os IPOs com P/L exagerado. Quem lançou, ficou com o dinheiro, a custo dos investidores. Quem não lançou só pode tomar a atitude de “wait and see”. Talvez os gananciosos tenham que esperar eternamente e nunca terão a oportunidade de lançar seu IPO.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Investment Grade

Brasil Vs. México

Quando a Standard & Poor’s concedeu o rating BBB– ao Brasil no final de abril de 2008, a Bovespa deu um grande salto. Essa classificação pela S&P conferiu aos títulos brasileiros em moeda estrangeira o carimbo de bom pagador.
O México andou na nossa frente, obtendo a mesma nota em fevereiro de 2002. Hoje está dois graus acima, com BBB+.
Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o comportamento da economia (PIB) do México era:

Ano PIB

2001 -0,03%
2002 +0,07% (quando recebeu Investment Grade)
2003 +1,39%
2004 +4,23%

Após o grau de investimento, o México conseguiu o alongamento do perfil da dívida, de até 30 anos. Ao mesmo tempo, a relação dívida pública/PIB em 2007 foi de 22,16%, comparado com a do Brasil de 42,67%. O Brasil precisa melhorar essa marca, manter o combate à inflação e a independência operacional do Banco Central, além da perspectiva de viabilizar as reformas tributária e da previdência. “Essas reformas teriam implicações muito favoráveis para uma futura melhora na nota”, disse Lisa Schineller, diretora de análise de risco soberano da Standard & Poor’s.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mexico Fund


Dez anos atrás, comprei Mexico Fund (MXF) pelos seguintes motivos:

A) México é produtor e exportador de petróleo, membro da OPEP.
B) México é membro do NAFTA (North American Free Trade Agreement) junto com Canadá e Estados Unidos.
C) O mundo industrial começou a montar fábricas no México para exportar para os Estados Unidos, o maior país consumidor do mundo, sem tarifa aduaneira, com baixo frete e mão - de - obra barata.

Não comprei México Fund pensando em Investment Grade. Na época não havia Investment Grade para o México. Nem sabia o que era Investment Grade.
Nos últimos dez anos, o México Fund subiu mais do que 300%. (incluindo dividendos).
Na minha pesquisa do próximo Investment Grade, cheguei à Europa Oriental. Existe um Exchange Traded Fund denominado S&P Emerging Europe SPDR ETF (AMEX: GUR) que investe nos índices de Czech Republica, Hungria, Polônia, Rússia e Turquia. Rússia já tem seu Investment Grade. E os outros países da Europa Oriental ? Depois de entrar na União Européia, 0 Investment Grade não deve estar muito distante.